EU, LUCIANA.

Texto crítico por Carluz.


Luciana Colesanti debruça-se sobre traços que não apenas descrevem montanhas, caminhos e paisagens, mas os traduzem como camadas de memória, afetividade e imaginação. Suas obras emergem de um espaço onde o tempo é maleável; um lugar íntimo onde o subconsciente encontra a paisagem e onde a geografia se transforma em linguagem emocional.

A artista percorre uma viagem que transita entre o simbólico e o sensorial, onde as barreiras da vida tornam-se contornos de trilhas possíveis. Cada caminho, mesmo envolto em névoas densas ou colorido por tons vibrantes, aponta para um lugar onde o eu, o outro e o mundo se encontram. Essa jornada, embora particular, remete a uma experiência coletiva do viver.

Em suas paisagens, os tons escapam da obviedade e caminham com liberdade, entre o sonho e a lembrança, em direção a algo que talvez já tenhamos conhecido. Há uma espécie de presságio, como nos versos de Cecília Meireles, no livro Vaga Música: "A vida só é possível se reinventada." Assim, Luciana reinventa o mundo ao narrar seus percursos internos através da materialidade da tinta, das camadas de cor que ecoam memórias e abrem espaço para o espectador projetar suas próprias topografias relacionais.

Sua pintura se oferece como espelho e enigma. Montanhas se erguem como arquétipos de desafios e refúgios, caminhos se desdobram entre escolhas e encontros, enquanto a paisagem assume a função de um território de afetos. Nesse contexto, olhar suas obras é aceitar o convite para uma travessia: não há pressa na chegada, porque cada curva, cada cor, cada silêncio compartilhado entre a artista e o espectador já é, por si só, um destino.